Ansiedade em corpos cíclicos: como manejar os sintomas a partir do ciclo hormonal
- ellenalvinoyoniver
- 15 de mai. de 2023
- 8 min de leitura
Estamos na era da ansiedade e a mulher é a mais acometida por essa patologia. Vamos dialogar sobre o que é a ansiedade, como ela age no sistema neural e no estilo de vida da mulher; assim como também analisaremos de que forma os hormônios femininos agem no corpo de uma mulher e a diferença entre os hormônios em cada gênero. Em conclusão, teremos um protocolo baseado em neurociências, psicologia positiva e mindfulness que auxilia de forma direcionada ao manejo da ansiedade em mulheres.
SITUAÇÃO-PROBLEMA
Segundo dados da Organização mundial da saúde, a OMS, o Brasil é o país mais ansioso do mundo com dados de 2019. Essa cena foi ainda mais intensificada nos últimos anos e além de ser uma questão de saúde pública, os dados apresentam que também é uma questão de saúde de gênero. As pessoas com ciclo hormonal feminino são as mais acometidas por ansiedade, sendo um número dobrado de casos em relação aos homens.
JUSTIFICATIVA
Dialogar com um plano de atendimento para mulheres que sofrem de ansiedade é um projeto que visa colaborar de forma mais efetiva com uma das patologias mais evidentes no momento atual da humanidade. As interferências desse olhar mais direcionado pro gênero feminino faz com que encontremos no ciclo hormonal e nas condições sociais da mulher, um viés específico e que pode auxiliar em um direcionamento melhor do manejo da ansiedade.
OBJETIVO GERAL
Alcançar um protocolo de atendimento com base em psicologia positiva, mindfulness e neurociências para pessoas com ciclo hormonal feminino com ansiedade, visando a interação das ferramentas e técnicas com o ciclo hormonal e o estilo de vida.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A ansiedade é considerada uma das patologias do século com dados de 6% da população e mostram que as mulheres sofrem mais de transtorno de ansiedade que homens. Há dados de pesquisas que mostram que há três fatores predominantes que podem auxiliar com essa questão, uma delas é o fator genético, outro consiste no contraste com fatores ambientais e um terceiro, com o ciclo hormonal feminino.
Quando entramos nas diferenças de gênero e de que forma o sistema neural funciona, vemos que há divergência de biodisponibilidade, absorção e distribuição de medicações psicotrópicas. Em pesquisas foi-se visto que há uma piora considerável nos sintomas de ansiedade em mulheres que passam pela TPM, intensificando a necessidade do estudo mais aprofundado sobre o ciclo hormonal e como a ansiedade pode ser gerida.
Segundo o professor Daniel Fuentes, para ter uma circuitaria funcionando de forma positiva, é necessário que haja um ajustamento do funcionamento desse sistema para um cotidiano mais fluido.
É necessário que haja uma situação de conflito para que desencadeia a ansiedade patológica; onde o indivíduo terá uma resposta inadequada, em intensidade e duração, quando há necessidade de adaptação.
Quando analisamos a questão gênero, em estudos clínicos e pré clínicos observados pelo professor Daniel Fuentes, a testosterona, hormônio masculino, possui efeito protetor contra a ansiedade e a depressão; enfatizando que em estudos de 2006, na administração de testosterona em mulheres, foi observado uma redução de ansiedade nas mesmas em relação as que tomaram placebo em um estudo de potente teor ansiogênico.
Em estudos com 500 participantes do Human Connectone Project no Estados Unidos, foi visto que mulheres apresentam maior atenção a estímulos externos, ou seja, os homens voltam para o interno e as mulheres para o externo, ficando mais suscetível à fatores ambientais, além de que achados recentes demonstram através de neuroimagens que o córtex anterior do giro cingulado é maior e mais ativo entre mulheres causando alta resposta ao medo e irritação.
Em artigos mais modernos, mostra que o traço de ansiedade mais alto está ligado a conexões mais fortes entre a amígdala (processamento do medo) com o giro, que é a região do cérebro para resposta emocional. E a associação dessas regiões com o lóbulo paracentral.
Quanto ao ciclo hormonal feminino, há pesquisas que apontam que quando o nível de progesterona está baixo, os neurônios do hipocampo (emoções) produzem mais receptores dos neurotransmissores de inibição gaba, havendo redução da comunicação entre a circuitaria neuronal, aumentando o nível de sensibilidade, os níveis de ansiedade e os ataques epiléticos.
A progesterona, que faz com que o revestimento interno do útero se estenda, preparando-o para ser fecundado, tem efeito ansiolítico natural, regulando a ansiedade, a depressão e o estresse. No período pré menstrual, a progesterona cai drasticamente causando efeito contrário no corpo feminino.
As funções cotidianas nas mulheres acabam ficando comprometidas por estarem enquadradas em uma situação geral dessa patologia, sendo assim visto que não se é, na prática um caso geral e sim um caso específico de gênero.
É visto através da professora Caroline de Moraes em Psicologia positiva e Inteligência emocional e autoconsciência a importância da consciência acerca das nossas emoções e o quanto é preciso aprender a lidar com as emoções.
Aqui, objetivamos esmiuçar o protocolo de ferramentas e técnicas que podem ser utilizadas de forma preventiva e também no momento em que é desencadeada uma crise de ansiedade baseada em atenção plena, identificação das emoções, autoconsciência, aceitação, entre várias outras práticas que estão englobadas nas terapias cognitivas comportamentais e na psicologia positiva.
PLANO DE DESENVOLVIMENTO COLETIVO
As técnicas, ferramentas e práticas da Psicologia Positiva e Mindfulness estabelecem um protocolo de funcionamento que agem de acordo com um sistema hormonal cíclico, podendo assim estabelecer práticas de acordo com cada etapa do ciclo e almejar que a mulher possa ter a sua disposição ferramentas internas para dialogar com seu conteúdo pessoal diante situações externas à ela.
Para isso, o plano de ação consiste em analisar as perspectivas da interagente com o ciclo hormonal feminino e cíclico, qual a situação problema da mesma e poder, para seguinte, desenvolver um programa que a mesma tenha a capacidade de atingir o proposto naquele momento de sua vida.
É importante ter ciência de que cada pessoa tem suas questões e algumas feridas são tão profundas que não é apenas com um plano e protocolo tabelado que vamos atingir alguma meta proposta. Esse estudo dialoga com uma forma única de trabalhar com cada ser de acordo com suas capacidades naquele momento específico. Por isso, desenvolvemos aqui um leque de ferramentas, que devem ser analisadas individualmente antes de serem usadas.
É importante que haja um acompanhamento com a interagente para que se possa dialogar sobre as denominações das emoções, a forma como se coloca atenção nos estados emocionais, desenvolver autoconsciência, autoconfiança, atenção plena e liberar hormônios que sejam precursores de boas sensações. Deixando claro a necessidade da psicoterapia.
A ansiedade normalmente é tratada como transtorno de atenção primária, onde se necessita olhar para as questões multifatoriais, trabalhar na redução dos sintomas abrangendo a melhora da qualidade de vida e funcionamento. Nesse processo, é olhado mais para a funcionalidade da via do interagente do que o diagnóstico em si, pois, segundo o professor Daniel Fuentes, diagnósticos iguais têm funcionalidades diferentes em cada pessoa.
Para os casos de ansiedade causada pelos fatores externos, como insegurança social e perturbação individual ao ser, segundo os estudos com a professora Caroline de Moraes, as seguintes ações devem ser tomadas em um momento onde se sai da zona de tranquilidade individual:
SAÍDA DA ZONA DE TRANQUILIDADE:
1- Atenção plena: parar e sentar junto da emoção. Se estabelecer e sustentar o estado emocional. Não buscar fugir ou fazer outra coisa, se propondo a estar em atenção ao desconforto que a emoção causa e respirar profundamente. Junto desse momento, pode-se fazer a técnica de Body Scape, onde se coloca as mãos no corpo e aumenta-se a percepção para ver como ele está. Se existe alguma tensão no corpo, observando suas partes, sua temperatura, sensações, desejos. Escanear o corpo da cabeça aos pés.
2- Identificar as emoções: reconhecer qual emoção se estabelece naquele momento, nomeando-a. E entender que aquela é uma emoção momentânea; que ela não é você.
3- Aceitação: Não negar as emoções e aceitá-las. Isso implica em lidar com emoções difíceis de forma consciente.
4- Impermanência: Observar a emoção, deixá-la vir e deixá-la ir. Não levar tão a sério a emoção desprazerosa. Se colocar em estado de observadora.
5- Investigação: Buscar o que causou o desconforto, o pensamento, a preocupação e o sistema de crenças. Em seguida, avaliar como se responde a isso e estar aberto aos resultados. Buscar as raízes do acontecimento, se abrir com curiosidade para receber as respostas e desenvolver autoconsciência para compreender as emoções e o efeito delas.
6- Expressar as emoções: muitas vezes se faz necessário ações como gritar, rir, chorar, torcer, caminhar, escrever. Para que se encontre a regulação emocional, essas são atitudes que, estrategicamente, aumentam, mantém ou diminuem os componentes de uma resposta emocional. A partir da consciência, se pode moldar e escolher as formas de expressar tais emoções.
VOLTAR AO CONTROLE
Após uma situação de estresse e ansiedade ou até mesmo no momento em que se é acometida por essas emoções, é importante que se possa voltar ao autocontrole e à autogestão. Para isso, as seguintes técnicas podem ser utilizadas:
Mindfulness: atenção plena, para acalmar o sistema nervoso e ter consciência do mundo interior, respeitar e aprender a viver com as emoções.
Técnicas de ancoragem: grounding, centramento, contenção e respirações. Para o centramento, pode-se descrever objetos que estejam à sua frente. É importante a utilização dos cinco sentidos para que se habite o corpo.
Olhar o que está por trás da raiva. Podem ser emoções como tristeza, medo, vergonha.
Estar ciente dos sinais corporais e os gatilhos que aí carregam.
Aprender maneiras de se acalmar.
REGULAÇÃO HORMONAL
Para momentos onde se é preciso a regulação hormonal, como crise de ansiedade:
Técnicas de aterramento: colocar a mão na água, se concentrando na temperatura da água, sentir a ponta dos dedos.
Fazer uma caminhada.
Mover o corpo, como pular corda, alongar.
TENSÃO PRÉ MENSTRUAL
Para que se possa dialogar com um momento de baixa progesterona, é importante que todo o ciclo seja planejado. Para isso, é necessário uma mudança de postura diante a vida, onde esta se torna mais organizada e se denomina uma visão de futuro.
Dessa forma, fica claro que no planejamento, em tempos de TPM, diminui-se o ritmo de trabalho, o contato social, e se permite maior acolhimento.
NOVO MODELO MENTAL
Para levantar um novo modelo mental:
1- Se comprometer com os objetivos pessoais.
2- Iniciativa: aproveitar oportunidades, distinguir no que você é bom e quais são suas metas. Escrever sobre as virtudes e quando tiver medo, ansiedade e pânico, poder olhar para as virtudes.
3- Resiliência e otimismo: Capacidade de lidar com os desafios da vida e poder olhar para o lado bom.
Para se ter inteligência emocional, é preciso desenvolver autoconsciência, autorregulação, motivação, empatia e socialização.
STOP
Uma técnica eficiente é a STOP, onde se elabora as seguintes questões após um evidenciamento de mudança emocional:
Parar ao ver o primeiro sintoma, pensar, interrompendo as distorções cognitivas e organizando o pensamento; planejar a próxima ação.
Com essa técnica, a pessoa consegue sair do looping, diminuir a perspectiva distorcida e reestruturar-se cognitivamente.
RESULTADOS ESPERADOS / RESULTADOS ATINGIDOS
Como resultado final, consegue-se passar ferramentas para pessoas que são acometidas por ansiedade, principalmente no ciclo da TPM. Sendo assim, mais mulheres saem do contexto de vítima da ciclicidade hormonal e se colocam como colaboradoras desse processo.
De forma pessoal, com esse trabalho, pude desenvolver de forma mais clara um protocolo para dialogar com mulheres que ainda não sabiam como lidar com sua ciclicidade as entregando ferramentas, como o mapeamento do ciclo hormonal, ferramentas para lidar com a ansiedade e testes sobre como definir seus valores, virtudes, seus pontos fortes e como trabalhar suas fraquezas; além de mapear também uma prospecção sobre uma visão de futuro e uma vida com mais organização e planejamento.
Dessa forma, obtive resultados a longo prazo onde mulheres estavam mais empoderadas das suas emoções, dos seus projetos e do seu ciclo feminino.
REFERÊNCIAS
MORAES, Carolina de, Psicologia Positiva: inteligência emocional e autoconsciência. PUC PR. Disponível em https://posdigitalpucpr.blackboard.com/ultra/courses/_29602_1/cl/outline Acesso em julho de 2022.
FUENTES, Daniel, A era da ansiedade: contribuições da neurociência. PUC PR. Disponível em https://posdigitalpucpr.blackboard.com/ultra/courses/_30902_1/cl/outline. Acesso em julho de 2022.
KINRYS, Gustavo, Transtornos de ansiedade em mulheres: gênero influencia o tratamento?, Scielo Brasil, 2005. Disponível em https://www.scielo.br/j/rbp/a/BFx4r3BVv54Vy9Hh7FfmJnk/?format=html&lang=pt Acesso em julho de 2022.
CAMURÇA, Renata Toscano Sobreira, Interferência dos hormônios femininos na ansiedade em mulheres durante o ciclo menstrual. UFPB, 2016. Disponível em https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/11588/1/Arquivototal.pdf Acesso em julho de 2022.
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